Provavelmente você já parou para refletir que as formas de produção e consumo da informação passam crescentemente por contextos digitais. Conversamos com nossos amigos e familiares por mensagens de texto, assistimos filmes e séries favoritas em plataformas de streaming, nos informamos sobre o mundo pelas redes sociais ou por sites de mídia noticiosa. Os conteúdos que consumimos, durante nosso dia a dia, estão condicionados cada vez mais à telas e interações com dispositivos digitais.
Mas, você já se perguntou se esse consumo é feito de forma inclusiva e acessível para todas as pessoas? Neste artigo, você saberá mais sobre a acessibilidade web e porque é necessário pensarmos nela e incluí-la mais na sociedade.
24% dos brasileiros possuem algum tipo de deficiência
De acordo com o censo demográfico mais recente do Brasil, 24% dos brasileiros possuem algum tipo de deficiência, ou seja, cerca de 45,5 milhões de pessoas fazem parte desse grupo social. Trata-se, dessa forma, de um percentual bastante expressivo da população brasileira, sendo assim, é indispensável pensar em políticas de acessibilidade para a participação efetiva das pessoas com deficiência no consumo de produtos digitais.
No contexto da legislação brasileira, a lei n° 13.146 representou um avanço nesse campo para o país, pois instituiu a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, também conhecida como Estatuto da Pessoa com Deficiência. Tendo como base a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, essa lei condensou uma série de decretos e leis que antes estavam dispersos. Nesse sentido, a grande contribuição do Estatuto foi unificar a legislação a respeito das pessoas com deficiência, estabelecendo uma unidade legal.
Acessibilidade Digital
Outro documento de extrema importância para a criação de padrões em acessibilidade digital — e que você provavelmente já deve ter ouvido falar — são as Diretrizes de Acessibilidade para Conteúdo Web (WCAG).
Criada pelo World Wide Web Consortium (W3C), um órgão sem fins lucrativos que regulamenta questões relativas aos padrões que são seguidos na web, a WCAG tem como objetivo tornar o conteúdo da Web mais acessível Essas diretrizes melhoram a experiência digital de pessoas com deficiência visual, auditiva, física, de fala, intelectual, de linguagem, de aprendizagem e neurológica.
No entanto, é importante ressaltar que elas também influenciam na usabilidade de pessoas idosas e de pessoas usuárias no geral. Por conta disso, tal debate deve ser inserido de forma integrada na sociedade, uma vez que extrapola o público das pessoas com deficiência.
Dificuldade na implementação de boas práticas em acessibilidade
Essa discussão se faz ainda mais necessária, uma vez que os dados relativos à acessibilidade digital na web brasileira não são dos melhores. É possível perceber uma dificuldade na implementação de boas práticas em acessibilidade, a partir do resultado da segunda avaliação sobre a experiência de navegação na web das pessoas com deficiência no Brasil. A pesquisa foi conduzida em conjunto pela BigDataCorp e o Movimento Web para Todos no ano de 2020.
No total, foram analisados quase 15 milhões de páginas na web brasileiras, incluindo sites governamentais, corporativos, e-commerce, jornalísticos, entre outros. Dentre esses, 99,26% possuem pelo menos um problema a ser solucionado em termos de acessibilidade, configurando um percentual alto para um país que preza, em sua legislação, pela acessibilidade das pessoas com deficiência.
Além da importância para a inclusão dessas pessoas, a adequação dos conteúdos digitais aos padrões de acessibilidade traz benefícios às instituições e empresas, propiciando-as, como vantagem mais expressiva, uma expansão mercadológica.
Segundo a Accenture, em seu artigo “The Accessibility Advantage: Why Businesses Should Care About Inclusive Design”, há um total de 1 bilhão de pessoas com deficiência globalmente, o que representa cerca de 8 trilhões de dólares em renda disponível para consumo.
Por conta disso, esse grupo representa o terceiro maior poder econômico do mundo, ultrapassando Japão, Alemanha e Reino Unido. Sendo assim, as empresas que colocam a acessibilidade como pauta de relevância em seus negócios, expandem seu mercado consumidor para um público bastante significativo mundialmente.
Ainda segundo o consórcio W3C, em sua Cartilha para Acessibilidade na Web, os produtos que instituem uma política clara de acessibilidade em seus serviços acabam conquistando uma melhor imagem diante dos clientes e consumidores. Por outro lado, existem outros benefícios de extrema relevância para a escalabilidade dessas empresas, que vão além da imagem perante o público e expansão do mercado consumidor.
No total, a cartilha elenca dez benefícios, que são: responsabilidade social, melhoria da imagem da empresa, aumento da visibilidade do site pelos sistemas de busca, fidelização de usuários e clientes, crescimento da audiência, vantagem competitiva, canal aberto de comunicação com usuários e clientes, diminuição dos custos com manutenção, melhoria do desempenho e aumento da interoperabilidade dessas aplicações. Para entender cada um deles de forma mais detalhada, confira a Cartilha para Acessibilidade na Web do W3C.
É possível perceber, portanto, que projetar um produto acessível não impactará de forma negativa os modelos de negócio das grandes corporações — muito pelo contrário.
Uma vantagem competitiva
A adoção de práticas em acessibilidade fomenta, além da inclusão de certos grupos minoritários, uma vantagem competitiva com os outros players de mercado, uma vez que contribui para a usabilidade das aplicações e expande o público alvo para uma parcela expressiva da população, que está há bastante tempo marginalizada no consumo de tecnologia.
Cabe a nós, enquanto desenvolvedores, designers e líderes, nos capacitarmos cada vez mais para para atender a essa forte demanda que é essencial para alguns, mas útil para todos.
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