Rodrigo Araújo começou a programar aos 14 anos. Fez trabalhos como freela quando ainda estava no ensino médio. Depois de um intercâmbio, liderou projetos na Cubos e hoje é CTO do Amigo Edu, uma startup que pretende revolucionar a educação e ganhou projeção nacional durante a pandemia ao viabilizar o vestibular online. A seguir, Rodrigo nos conta sobre sua trajetória e dá dicas para quem pretende ocupar essa posição.

Como você começou na área de tecnologia?

Me interessei por programação quando tinha 14 anos, por causa de jogos. Quis fazer um fã site de um jogo, encontrei um amigo na própria comunidade que já programava e começamos o site juntos. Ele me ensinou muitas coisas e estudei outras por conta própria.

Com o site no ar, desenvolvemos novas features e passamos a entregar coisas que outros fã sites não tinham. Isso me incentivou a aprender e crescer cada vez mais. Ainda não tinha muita certeza sobre em que me formaria. Queria cursar Psicologia, Direito, Biotecnologia, Computação… Mas ao longo do ensino médio, fui focando cada vez mais em programação.

Por conta da comunidade de jogos, comecei a fazer freelas de outros sites e entendi que aquilo poderia ser uma profissão. Na época do vestibular, todas as minhas opções eram ligadas à tecnologia: análise de sistemas, ciência da computação, engenharia da computação, sistemas de informação… Em cada universidade, me inscrevi em um curso diferente.

Então, entrei no curso de engenharia da computação na Ufba, muito por pressão familiar. Eu sabia que conseguia ser autodidata em programação, mas pensava que esse curso me daria conhecimentos de engenharia elétrica, que não tinha tanto como aprender sozinho.

Até que fiz intercâmbio nos EUA pelo Ciências Sem Fronteiras e foquei na grade de ciência da computação enquanto estava lá. Quando voltei para o Brasil, estava desmotivado de voltar para a engenharia e procurando uma experiência formal de trabalho.

Conversando sobre isso com Guilherme [Bernal, hoje CTO da Cubos], soube que a empresa estava procurando pessoas e me candidatei. A partir daí, fui me engajando cada vez mais com ciência da computação e com o mercado e me distanciei do curso de engenharia. Não era o curso certo para mim.

Então priorizei meu trabalho e as oportunidades que poderia gerar focando mais energia nisso que estudando. Interpretei que era mais estratégico e que não precisaria entrar em uma graduação naquele momento. Mas cheguei a concluir 9 semestres do curso, nos quais estão as disciplinas bases da computação. E agora em 2021, vou cursar Cyber Segurança na FIAP. Acho importante manter um portfolio acadêmico atualizado.

Em relação à sua trajetória profissional, por onde você passou e como chegou à posição de CTO?

Comecei o fã site em 2014 e com isso passei a ter muitos contatos na comunidade de jogos. Éramos crianças na época, mas todo mundo cresceu e foi trabalhar em diferentes áreas. Aí começaram a aparecer para mim oportunidades de desenvolvimento em outros setores, como blogs e e-commerces. Fui construindo um portfólio até os primeiros anos na universidade.

Quando voltei do intercâmbio, quis uma experiência formal em uma organização e vim para a Cubos. Fui a nona pessoa a entrar na empresa e, naquela época, todo mundo fazia tudo. Com esse mindset, a empresa e todos os membros se desenvolveram e passei a ocupar espaços de liderança que me possibilitaram alcançar a posição de CTO alguns anos depois.

Quais foram seus maiores desafios antes de se tornar CTO? Quais experiências te possibilitaram aprender e se desenvolver?

O fato de ter participado de uma empresa que estava crescendo me deu uma visão de business mais precisa de como as coisas são feitas. Em uma startup, estamos querendo testar se o produto existe, validar a ideia, para que os recursos cheguem e a gente possa ganhar escala. Isso hoje me permite analisar e priorizar atividades em favor do negócio e não com base em uma visão utópica em relação à arquitetura perfeita de software, por exemplo.

Na Cubos, eu também tinha uma comunicação mais direta com os clientes. Com isso, pude desenvolver a capacidade de gerir expectativas de terceiros e criar senso de mensuração do esforço a ser realizado nas atividades.

O maior desafio que tive foi dentro da Cubos, com um projeto que tinha uma equipe muito grande, de 50 pessoas, que não estava dividida claramente em sub squads. Isso exigia um ponto centralizador na gerência do projeto. Tentamos desconstruir isso com squad leaders. Foi um processo dispendioso e bastante experimental porque a cultura de squads não é nova, mas normalmente é aplicada em cenários diferentes, não em uma software house. Traduzir esse conceito, criando senso de ownership e formando lideranças foi um desafio.

Quais são seus maiores desafios hoje como CTO?

Meu maior desafio hoje no Amigo Edu é lidar com uma empresa em transição de escala. Eu tenho uma filosofia contrária a fazer otimizações precoces, então parte do software foi construída com um mindset e agora temos que lidar com outro volume e outro tamanho de equipe, que está em crescimento. Tenho que gerir a equipe para que a gente consiga transitar em relação à arquitetura de software, sendo que com a equipe em crescimento, a forma de desenvolver muda. Do outro lado, com o público crescendo, também temos que estar preocupados com a escalabilidade.

E como é sua rotina nesse cenário?

Boa parte do meu tempo é despendida em reuniões. Tanto internas, de alinhamento de prioridades com diferentes áreas, quanto externas, com potenciais parceiros, fornecedores de tecnologia e clientes. Também gasto muito tempo com aspectos de programação mais macro, de arquitetura e de mudanças maiores no produto. Eventualmente, ainda programo. Isso era mais intenso no início, quando a equipe era pequena e a empresa estava crescendo, na fase de validação. Hoje temos mais estrutura e processos de produto e desenvolvimento que me permitem ter uma abordagem mais estratégica e não operacional.

Como você vê o papel do CTO nas organizações hoje?

Existem diferentes interpretações da função que variam de acordo com a empresa. Em uma empresa pequena, existe a expectativa que o CTO seja uma espécie de canivete suíço, que acelere o delivery e viabilize a entrega tecnológica. Quando a empresa passa a ter outro patamar, espera-se uma visão mais estratégica em relação a código e gestão da equipe, que envolve plano de carreira, crescimento das pessoas e liderança para que as pessoas se desenvolvam.

A gente sabe que faltam profissionais no mercado de tecnologia como um todo. Pela sua experiência, você acredita que também faltam profissionais para ocupar a posição de CTO? Por quê?

Certamente faltam em decorrência da carência do mercado como um todo. Como o setor é escasso de mão de obra, quando procura-se desenvolvedores sênior que também tenham o portfólio de soft skills necessários para lidar com pessoas para ocupar a posição de CTO, isso fica mais escasso. Se procuramos desenvolvedores sênior com esse perfil e com visão mais estratégica, fica mais escasso ainda. Essas camadas impulsionam a falta desse perfil.

Quais conselhos de carreira você daria para quem pensa em trilhar esse caminho?

É complicado falar, pois estarei enviesado pelo meu ângulo, de alguém que julga que a experiência prática é um baita diferencial. Mas conhecimento teórico sobre arquitetura de código para prever e definir padrões escaláveis também é importante. Senso de ownership é outro diferencial, porque uma pessoa no cargo de diretoria precisa estar empenhada em fazer o negócio dar certo.

Também é importante conseguir se comunicar com sua equipe, tanto no aspecto técnico quanto inspiracional. É preciso ser uma pessoa com capacidade de gestão e liderança para manter a equipe motivada nos obstáculos.

Entender o que está fazendo e como as coisas funcionam faz toda diferença para pensar e arquitetar a solução. É preciso ter visão analítica e criar soluções criativas para as múltiplas questões que surgem no caminho.

Falando do mercado em que você atua hoje, quais as suas previsões para os próximos anos em relação à tecnologia e educação?

O mercado educacional de ensino superior, e talvez o mercado como um todo, é bem defasado tecnologicamente. No Amigo Edu, a gente enxerga uma capacidade absurda de oferecer múltiplos produtos para esses players. Sejam soluções para reduzir inadimplência ou conectar alunos e vagas de trabalho, o que não faltam são possibilidades. Até por conta da pandemia, a gente vai ver uma digitalização cada vez maior do ensino, o que vai potencializar ainda mais o mercado digital e online para a educação.