Tayane Cerqueira sempre gostou de tecnologia, mas diz que caiu de paraquedas na faculdade de engenharia da computação e aprendeu a gostar do curso. Hoje, ela é CTO da Conexa, uma startup que oferece software de gestão para escritórios compartilhados. Saiba mais sobre Tayane a seguir e confira as dicas dela para que mais mulheres cheguem à liderança em tecnologia.
Como você começou na área de tecnologia?
Na verdade, caí de paraquedas no curso de engenharia da computação. Como muitas pessoas, achava que o curso era uma coisa e na verdade era outra. Mas sempre gostei de tecnologia, computador e informática. Apesar do curso não ser o que eu esperava, acabei me apaixonando pelo que era de fato.
Comecei como estagiária na área de informática, como suporte, na própria UEFS. Depois, também lá, tive minha primeira experiência como programadora, em outro setor, com desenvolvimento de sistemas.
Dois anos depois, me candidatei para um estágio na Conexa e tenho construído minha carreira aqui. Eu entrei como estagiaria e fui contratada em 9 meses, o que considero rápido. Então tive algumas promoções até chegar a CTO. Quando entrei como estagiária, o termo coworking nem era muito difundido. Éramos um software para escritórios virtuais. Hoje falamos em escritórios compartilhados. Cresci junto com a empresa e a empresa cresceu junto comigo.
Como você chegou à posição de CTO?
Me percebi CTO. Não foi algo dito. Não chegou alguém para mim e disse “a partir de hoje, você tem um cargo de liderança”. Eu meio que já tinha tomado esse lugar.
Antes, a gente não tinha essa posição definida. Começamos com 3 desenvolvedores e não tínhamos lideranças estruturadas. Hoje somos 10, com processos seletivos abertos, então vai entrar mais gente. Acabei percebendo essa necessidade, de ter uma pessoa exercendo papel de liderança, organizando as coisas, se preocupando com as pessoas e fui fazendo isso de forma muito natural. Quando o CEO e o time perceberam, isso foi oficializado.
Quais foram seus maiores desafios no começo e quais são agora como CTO?
Quando a empresa estava no início, com o MVP em crescimento, a gente precisava que as coisas acontecessem de forma rápida, como muitas startups. Não tivemos tempo para muito planejamento, era muito mão na massa. Então tinha o desafio de unir velocidade com a qualidade do que estava sendo entregue.
Conforme a empresa cresce, ainda precisamos entregar algo rápido e com qualidade, tem um desafio técnico maior e precisamos recrutar pessoas, ter pessoas boas no time e manter a equipe engajada. O maior desafio para quem está na liderança é fazer a roda girar.
Hoje meu desafio é levar a empresa a um patamar que ela ainda não chegou. Tenho desafios técnicos e de trazer pessoas boas para o time, o que considero o maior.
E como é sua rotina nesse cenário?
Meu dia é muito cheio. Faço um pouco de tudo porque gosto de me envolver com tudo. Não gosto só da parte técnica, mas também da parte comercial, de produto... Isso sem ser centralizadora, dando liberdade para o time na tomada de decisões. Então eu converso com as pessoas e participo das decisões técnicas e estratégicas.
A primeira coisa que faço no meu dia é abrir Slack e Trello. São várias mensagens para responder e acompanho o andamento das atividades e adiciono tarefas. Acompanho o desenvolvimento do time e vejo se estão precisando de algo. Tento ser aquela pessoa que resolve problemas para que as pessoas consigam trabalhar. Procuro e resolvo impedimentos.
É muito difícil eu programar hoje, mas eu tento porque eu gosto muito. Então às vezes eu pego uma coisa ou outra. Mas não dá tempo, a gente precisa focar nas atividades de gestão. São muitas reuniões e tomadas de decisões, técnicas e de produto.
Também procuro saber como as pessoas estão. Acho importante não cuidar só do técnico, mas também do pessoal, do emocional. Então eu converso muito com as pessoas, para saber como está o dia delas, como foi a semana. Ter um time engajado é uma das chaves para a gente ter sucesso.
Tento também emergir novas lideranças no time. Quero que outras lideranças surjam, que estejam preocupadas com pessoas. Eu faço o que fizeram comigo: acreditar. Deixar a pessoa trabalhar e dar o melhor dela. Eu acho que as pessoas têm que fazer o que elas gostam e são boas. Se eu percebo que a pessoa tem características de líder, dou oportunidade para que ela possa exercer aquilo que faz de melhor.
Quais foram os desafios com a pandemia e o crescimento do home office para o setor de escritórios compartilhados e quais as suas previsões para os próximos anos?
Inicialmente, como todo mundo, ficamos preocupados com a incerteza do que aconteceria. Mas estamos muito otimistas com 2021. A gente já está vendo a área crescer. Empresas que entregaram escritórios perceberam que não precisam de tanto espaço. Teremos mais pessoas trabalhando em formato híbrido e isso é muito bom para os locais compartilhados. As empresas não precisam mais ter espaços exclusivos, estar apenas em um lugar. Estamos bastante otimistas.
Saindo um pouco da Conexa, como você vê o papel do CTO nas organizações hoje?
É até difícil dizer porque não é comum encontrar CTOs. Por mais que a gente leia e ouça falar, estar mais perto e ter contato com outros é algo que eu gostaria muito. A gente quer compartilhar os desafios, conversar, trocar experiências e acaba não fazendo isso.
Mas acredito que o maior desafio é ter um bom time. O mercado de tecnologia está em alta, estão sobrando vagas e faltando pessoas. Como trazer pessoas boas para o time com tanta concorrência? Ter um bom time engajado é o maior desafio.
Quais conselhos de carreira você daria para quem pensa em trilhar esse caminho?
Para a carreira em tecnologia, a principal habilidade é ter vontade de aprender. Se adaptar também é muito importante porque tecnologia, cenário e mercado mudam com muita frequência. Ser uma pessoa proativa também.
Para ser CTO especificamente, é preciso ser uma pessoa organizada e que realmente se preocupa não só com decisões técnicas, mas com o mercado, a empresa e as pessoas. É preciso ter a visão técnica para a tomada de decisões, mas vá além para os aspectos de gestão. E é preciso vestir a camisa da empresa.
Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio do IBGE, só 20% dos profissionais que atuam no mercado de TI são mulheres. Da mesma forma, não é tão comum vermos CTOs mulheres nas empresas. Quais desafios as mulheres enfrentam tanto para entrar nesse mercado como para crescer?
Falta incentivo. A sociedade precisa mostrar que elas também podem. O pensamento de “é uma área que tem mais homens” pode fazer com que a mulher se sinta intimidada. Mas meninas, é uma área muito legal, podem vir!
Homens não são mais capazes que a gente. Temos mais meninas desenvolvedoras na Conexa e elas são ótimas. As mulheres têm varias habilidades que são muito importantes para a posição de CTO, como criatividade e saber lidar com pessoas.
Considero que tive sorte de ter encontrado pessoas certas no momento certo. Nunca me senti discriminada, nunca senti que tinha menos capacidade. Sei que não é a realidade de muitas mulheres. Ter trabalhado com pessoas que acreditaram em mim, tanto na UEFS quanto com o Breno (Caires, CEO da Conexa) foi muito importante. Ter pessoas que acreditam no seu potencial te leva a outro nível. Eu tive essa sorte.
Como você acha que podemos fazer com que mais mulheres cheguem à posição de CTO?
Acho que é realmente oportunidade. Eu tive oportunidade e pessoas que acreditaram em mim. Talvez em outros lugares isso não aconteça. Mesmo a mulher sendo muito boa, tendo habilidades, podem não ter pessoas que acreditem nelas por preconceito. Dar oportunidade, acreditar na pessoa e que ela pode desenvolver faz toda a diferença.